Resumos das Palestras
Construções complexas de causa
Profa. Dra. Maria Luiza Braga - UFRJ/CNPq
Profa. Dra. Maria da Conceição Paiva - UFRJ/CNPq
Neste artigo, investigamos as orações complexas de causa valendo-nos do enfoque funcionalista da gramaticalização. O trabalho compreende três partes: inicialmente, caracterizamos a relação semântica de causa e identificamos as construções complexas capazes de sinalizar tal relação nos séculos XVIII e XIX. Na segunda parte, confrontamos duas propostas mais recentes de tratamento funcionalista das orações complexas – Croft (2001) e Cristofaro (2003) – e localizamos orações complexas em um espaço sintático e conceitual. Na terceira parte, consideramos a mudança experimentada pelas orações complexas ao longo destes dois séculos, no que diz respeito ao desuso de estratégias prévias, surgimento de novas estruturas e alteração/manutenção de propriedades gramaticais das estruturas que se preservaram.
Articulação de orações: uma abordagem funcionalista da hipotaxe em português
Profa. Dra. Maria Beatriz Nascimento Decat - UFMG
Esta palestra objetiva mostrar, numa abordagem funcionalista de orientação norte-americana (em especial o funcionalismo da costa oeste dos Estados Unidos), como se dá a articulação de cláusulas hipotáticas no português oral e escrito. A partir da análise de dados reais, será abordada, por um lado, a forma de materialização linguística desse tipo de articulação. Para tanto, será levada em consideração a “proposição relacional”, ou relação implícita, que emerge entre uma cláusula e outra, ou entre uma cláusula e uma porção maior de texto/discurso, com ou sem a presença de uma marca (por exemplo, conectivo) que explicite a relação núcleo-satélite mantida entre essas estruturas. A materialização hipotática será ainda discutida em termos da ocorrência isolada de cláusulas, como enunciados independentes e formando uma unidade informacional à parte, a que venho chamando, metaforicamente, de estruturas “desgarradas”. Além da forma como se materializa a hipotaxe em português, será discutido o papel funcional-discursivo das cláusulas hipotáticas, ou seja, a função textual-discursiva a que as cláusulas servem na organização do texto, atendendo a objetivos comunicativos do falante/escritor. Finalmente, será mostrado que um estudo da maneira proposta poderá clarear uma série de problemas, seja com relação à própria hipotaxe, seja com relação à subordinação em geral.
Articulação de orações: uma abordagem funcionalista da cláusula matriz
Profa. Dra. Nilza Barrozo Dias - UFF
O estudo sobre as cláusulas matrizes, numa abordagem funcionalista norte-americana, tem mostrado resultados bastante intrigantes no que diz respeito ao papel semântico-discursivo que tais matrizes vêm apresentando nos estudos já realizados em projetos de pesquisa, em dissertações e em teses de doutorado. O foco de nosso estudo estará nas orações matrizes que fazem parte das construções apositivas (unidades A e B) e naquelas que fazem parte das construções subjetivas (unidade matriz e predicado-argumento). Nas construções apositivas, encontramos orações matrizes que expressam uma unidade base de referência que poderá ser tanto um sintagma, uma oração, quanto um enunciado. As unidades A e B podem estar conectadas por: (i) conector Ø e (ii) conectores discursivos. O tipo (i) é representado por: (a) construções apositivas ambíguas, que apresentam comportamento similar às orações paratáticas, e (b) pela unidade A que desencadeia uma relação catafórica com a unidade apositiva. Dentro deste grupo, encontramos uma determinada unidade matriz que apresenta também a avaliação do locutor e serve para conectar informação que a antecede com aquela que a sucede. São as “pequenas cláusulas”. Já, no tipo (ii), podemos considerar as unidades matrizes que estão articuladas a unidades apositivas introduzidas por conectores discursivos oriundos de verbos – isto é, ou seja, quer dizer e vale dizer - ou pelo conector com finalidade argumentativa – por exemplo. A função textual-discursiva de avaliação, peculiar da unidade apositiva introduzida por quer dizer, e a argumentação, peculiar das unidades introduzidas por por exemplo, podem ser encontradas nas construções “pequenas cláusulas” (DIAS, 2009). Ao direcionarmos o nosso trabalho para o segundo foco, as construções subjetivas, destacamos aquelas orações matrizes que se realizam com verbo de ligação + adjetivo ou substantivos modalizadores e/ou avaliativos. As referidas matrizes, além de exercerem a função sintática de elemento encaixador, podem funcionar, do ponto de vista semântico-pragmático, como detentoras da expressão de avaliação e de modalidades deôntica e epistêmica. A hipótese prevê que os diferentes usos das orações subjetivas e suas matrizes podem ser interpretados como processo inicial de gramaticalização ou forças que estabelecem motivações em competição (DUBOIS,1987), o que dependerá do tipo de oração matriz. Adaptando a proposta de Traugott (no prelo) acerca de elementos da pragmática que podem ser incorporados às mudanças semânticas pelas implicaturas, podemos avaliar a interferência do locutor no processo de gramaticalização das orações matrizes. Este processo de mudança linguística pode ser decorrente de mecanismos internos de mudança sintática: reanálise e extensão e de mecanismos de mudança semântica: metonímia conceptual e metáfora (Harris & Campbell, 1995: 50-53); (TRAUGOTT & DASHER, 2002: 27-34).