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O projeto Uso(s) de conjunções e  combinação hipotática de cláusulas, organizado pela Profª. Doutora Violeta Rodrigues, faz não só uma revisão do tratamento dado pela Gramática Tradicional à classe das conjunções como também aos períodos compostos tanto por coordenação quanto por subordinação.

 Segundo Barreto (1992:282), no que concerne às conjunções, "pode-se afirmar não haver uma separação nítida entre conjunções coordenativas e subordinativas, mas um contínuo que vai de coordenação à subordinação por excelência, havendo, em cada grupo, os protótipos, isto é, os que preenchem características básicas de cada grupo."

Para comprovar a afirmativa de Barreto (1992), a investigação do(s) uso(s) das conjunções utiliza principalmente o corpus do Projeto  VARPORT, constituído de textos escritos e orais do português brasileiro e europeu, tomando por base os pressupostos teóricos funcionalistas.

Barreto (1999) afirma que a maior parte dos itens conjuncionais portugueses vem experimentando, ao longo do tempo, processos de gramaticalizaçãp ou discursivização. Em outras palavras, a gramaticalização é um processo que ocorre continuamente na história da maioria dos itens conjuncionais da Língua Portuguesa. Por pressão pragmático-discursiva, ou de acordo com as necessidades do falante em situações reais de comunicação, itens conjuncionais: deixam de ser empregados; são substituídos por outros; assumem valores semânticos, por processos metafóricos de associação de ideias, ou, por processos metonímicos devido à contiguidade com outros itens ou estruturas da língua; por analogia a outras formas linguísticas; como resultado de implicaturas conversacionais.

Decat (2001:123) assinala, por sua vez, a possibilidade de ocorrer um "esvaziamento semântico" de algumas conjunções ou locuções conjuntivas e que esse esvaziamento pode ser observado não só na língua oral, em que é mais comum, mas também na língua escrita. Existe, portanto, a possibilidade de diferentes inferências entre cláusulas iniciadas por um tipo de conjunção. O que importa é o tipo de proposição relacional que emerge da articulação de cláusulas e não a marca lexical dessa relação. A marca do conectivo restinge-se à função de estabelecer um elo entre duas porções textuais, ou, nos termos de Chafe (1988), entre unidades informacionais.

Nesse sentido, a abordagem tradicional, em que apenas a coordenação e a subordinação são apresentadas como mecanismos de estruturação sintática e, consequentemente, de articulação de orações que ocorrem em períodos compostos, não é mais suficiente para descrever nem o comportamento das conjunções nem tampouco das orações em que ocorrem.

Sendo assim, a dicotomia parataxe versus hipotaxe, segundo o qual a parataxe incluía todos os tipos de justaposição e a hipotaxe, todos os tipos de dependência, precisou ser revista. Hopper & Traugott (1993), ao estabelecerem graus de integração entre orações na perspectiva da gramaticalização, apropriam-se dessas noções e acrescentam a subordinação como uma terceira categoria.

  Nessa nova perspectiva, parataxe implicaria independência relativa, ou seja, o vínculo entre as orações depende apenas do sentido e da relevância entre elas e a hipotaxe implicaria dependência entre um núcleo e margens, mas não encaixamento em um constituinte do núcleo. Já subordinação implicaria dependência completa entre núcleo e margem(ns) e, portanto, encaixamento de toda margem em um constituinte do núcleo.

Ao contrário do que ocorre no encaixamento, em que as cláusulas estão integradas estruturalmente/sintaticamente em outra, na articulação ou combinação, as cláusulas não estão sujeitas à integração sintática e se relacionam com o aspecto organizacional do discurso. Portanto, cláusulas combinadas podem modificar ou expandir, de alguma forma, a informação contida em outra cláusula, estabelecendo, assim, uma relação circunstancial.

Por isso, afirma-se que a articulação hipotática de cláusulas é uma opção organizacional para o usuário da língua na construção de um discurso coeso e coerente. Decorre disso que o relacionamento entre cláusulas se dá no nível do discurso e não apenas no sentencial, podendo apontar ainda para diferentes tipos de interdependência entre as cláusulas de um enunciado por meio de relações hipotáticas tanto explícitas quanto implícitas. Nas relações hipotáticas explícitas, há um elo explícito dessa ligação, que pode ser chamado de conectivo conjuntivo, que é visto como marca da gramaticalização da hipotaxe. Já nas relações hipotáticas implícitas, o elo está implícito, ou seja, não há conectivo conjuntivo, pois a relação entre as cláusulas é explicitada sem conectivo.
        Logo, o que importa é o tipo de proposição relacional que emerge da articulação das cláusulas e não a marca lexical dessa relação. A decisão sobre qual das duas inferências é a predominante só será possível no nível do discurso, para o que a análise tradicional é insuficiente.
        Outro dado a salientar é que a ausência de conectivo conjuntivo não impede o reconhecimento de uma construção hipotática, visto que há casos em que não é possível recuperar o conectivo, e nem por isso se pode negar a relação adverbial existente na articulação de cláusulas. O que vai decidir qual o aspecto da proposição relacional é mais relevante é o contexto discursivo, bem como a função discursiva da cláusula hipotática adverbial, esteja ela justaposta ou com conectivo conjuntivo.
        Assim, a necessidade de uma abordagem funcional-discursiva justifica-se na medida em que nela se consideram as relações hipotáticas tendo em vista o contexto discursivo em que as cláusulas se inserem, ou seja, faz-se uma análise supra-sentencial, abandonando, por exemplo, a noção de que a presença de conectivo seja o único parâmetro para uma descrição do comportamento das cláusulas adverbiais.
        Evidencia-se, pois, que a combinação hipotática de cláusulas é determinada pelo tipo de proposição relacional que emerge dessa articulação, que a maneira como se dá a articulação hipotática é também determinada pelas funções discursivas manifestadas pela cláusula que codifica o satélite na relação núcleo-satélite, que tanto o tipo de proposição relacional quanto a função discursiva vão determinar a organização sequencial das cláusulas hipotáticas. Portanto, as cláusulas hipotáticas adverbiais devem ser vistas como opções para a organização do discurso.
        As contribuições de uma abordagem dessa natureza para a teoria da sintaxe é que nela se priorizam as relações e as funções discursivas, mostrando a importância das construções hipotáticas na organização do discurso, podendo, por isso, constituir um ponto de partida para um estudo tipológico do discurso em termos da hipotaxe adverbial. Além disso, apresenta uma contribuição pedagógica, principalmente no ensino de língua materna, visto que evidencia a necessidade do resgate da intuição quanto às relações implícitas entre os enunciados, como também, para a importância de a escola não se ater somente a hipotaxe clássica.

 

 

 


Novidades

Novo Projeto

17/11/2014 17:45
Este projeto foi encerrado em abril de 2014. Foi, então, iniciado um novo. Para maiores informações, consulte:  Projeto Articulação de Cláusulas 

Notícia aos visitantes

30/10/2014 00:00
Caros usuários, caso tenham interesse em adquirir o livro "Articulação de orações: pesquisa e ensino", envie-nos um e-mail para violetarodrigues@uol.com.br Para que os que não moram no Rio de Janeiro, enviamos o livro via sedex. Entre em contato conosco!

Site lançado

23/04/2010 18:18
Este site foi criado com o intuito de divulgar os trabalhos produzidos a partir do projeto "Uso(s) de conjunções e combinação hipotática de cláusulas", organizado pela Professora Drª Violeta Rodrigues.